sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Após ouvir Lula, PT admite perder espaço para PMDB


Presidente do partido diz que o importante não são cargos, mas influência no governo

Lula vê aliança com PMDB como essencial para fazer frente à oposição PSDB-PFL e diz que PT terá de se adaptar a um governo de coalizão



Alan Marques/Folha Imagem
O presidente Lula recebe o embaixador do Kuait, Waleed Ahmad M. Al-Kandari, no Planalto


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA Em uma reunião de duas horas e meia com uma comissão de petistas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o partido terá de se adaptar a um governo de coalizão, pois vê uma aliança com o PMDB como essencial para evitar que o governo fique vulnerável à dupla oposicionista PSDB-PFL.
O primeiro encontro de Lula, depois da vitória no segundo turno, com representantes de todas as alas do partido deixou claro um temor crescente dos petistas nas últimas semanas: não só vai ser muito difícil aumentar a participação do PT no primeiro escalão como existe risco de perda de poder.
Uma das grandes preocupações do PT, hoje, é justamente perder espaço para o PMDB, partido que, apesar de dividido, possui uma ala que dá apoio irrestrito ao presidente e almeja mais cargos. Dos 34 cargos com status de ministro no governo, 16 estão nas mãos de petistas e 2 com o PMDB. Segundo relato de participantes do encontro Lula disse, mais de uma vez, estar apostando tudo nessa coalizão com o PMDB.
Antes de seguir ao Planalto, os petistas se reuniram para elaborar uma pauta que apresentariam a Lula. Definiram que a questão dos cargos do partido seria tratada de forma sutil, a fim de não pressionar o presidente. No início da conversa, porém, Lula se antecipou. Disse aos petistas que esse assunto, por conta do potencial polêmico, seria tratado exclusivamente com Tarso Genro (Relações Institucionais).
Ontem mesmo Tarso ligou para o presidente do PMDB, Michel Temer, para marcar para a próxima quarta-feira um encontro com Lula, dando início às conversas institucionais para o governo de coalizão.
Após o encontro de ontem, os petistas adotaram um discurso de que o importante não é a "visão geométrica do espaço" na máquina pública, mas sim o tamanho de sua influência nos rumos do segundo mandato.
"O tamanho da participação no governo, contrariamente ao que alguns podem supor, não é um tamanho que possa se medir com fita métrica, não pode se medir com aritmética vulgar. Mede-se concretamente pela presença das posições políticas essenciais de um determinado partido ou de um conjunto de partidos", afirmou o presidente interino do PT, Marco Aurélio Garcia, que falou em nome da comissão depois da reunião.
"Isso não é um terreno que vai ser dividido em termos de hectares ou metros quadrados. Vai ser dividido em torno da formação de uma base sólida de governo, programática, em torno de pessoas qualificadas."
Bem-humorado, mas firme na condenação aos erros de seu partido, o presidente também cobrou "renovação" e "recuperação" da legenda. Segundo os participantes, Lula disse que o "PT não tem direito de errar mais. Até quando acerta apanha. Imagina quando erra".
De acordo com a senadora Ideli Salvatti (SC), o presidente chegou a insinuar a hipótese de tomar posse sem ter escolhido sua nova equipe. "O presidente disse que, diferentemente da outra vez, quando tinha que tomar posse com todos os ministros, agora não precisa fazer isso até 1º de janeiro de 2007."
Além de Garcia, Tarso e Ideli, participaram do encontro o ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral), Jilmar Tatto (terceiro vice-presidente do PT), Maria do Rosário (segunda vice), Joaquim Soriano (secretário-geral-adjunto), Paulo Ferreira (tesoureiro), Renato Simões (secretário de Movimentos Populares) e Valter Pomar (secretário de Relações Internacionais). Na conversa, Lula disse que pretende mudar sua relação com o partido. "O nosso diálogo será aberto", teria dito.
Afirmou que a prova disso será sua presença na reunião do Diretório Nacional do PT, nos dias 25 e 26 deste mês, em São Paulo. Lula evitou falar sobre Ricardo Berzoini, afastado da presidência do PT em razão do caso do dossiê. (EDUARDO SCOLESE, FÁBIO ZANINI, PEDRO DIAS LEITE E FERNANDA KRAKOVICS)

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