Por Anderson Gabino |
28/12/2014 às 10:34

O desânimo e a deserção estão começando a
afetar os terrorista do Estado Islâmico, a coesão da mais poderosa
força jihadista do mundo começa desmoronar, enquanto sua força militar
passa a ser retardada pelo avanço da coalisão. Ativistas no leste da
Síria, controlados pelo EI dizem que, à medida que o progresso militar
desacelera e o foco se torna governar a área, cresce a frustração entre
os militantes considerados parte da força de combate mais disciplinada e
eficaz na guerra civil.
No meio do ano, o grupo avançou
sobre o Iraque ocidental e a Síria oriental, numa ofensiva que chocou o
mundo. O EI ainda tem muita força: controla faixas de território e
progride no Iraque ocidental. Seus combatentes, porém, atingiram o
limite de áreas sunitas muçulmanas descontentes (facilmente domináveis),
e a coalizão dos EUA e de forças locais com ataques aéreos e por terra,
começou a frear sua expansão.
Nesta semana os EUA anunciaram
que dois líderes do EI foram mortos em ataques aéreos –o grupo não
confirma–, e combatentes curdos interromperam o cerco de cinco meses ao
monte Sinjar, no Iraque.
“O moral não está caindo, ele
já bateu no chão”, disse um ativista opositor em área controlada pelo EI
na província de Deir Ezzor, na Síria oriental. “Combatentes locais
sentem que fazem a maior parte do trabalho e os combatentes estrangeiros
que pensavam estar numa aventura, agora estão exaustos.”
Um opositor do regime sírio e
do EI disse saber de cem execuções de combatentes estrangeiros do EI,
que tentavam fugir de Raqqa, cidade do norte da Síria que é, na prática,
a capital do Estado Islâmico. Como a maioria dos entrevistados, ele
pediu para não ser identificado. ”Após a queda de Mossul, em junho, o EI
se apresentava como incontrolável e vendia um sentido de aventura”,
disse um oficial americano.
Segundo ele, a dinâmica mudou
desde que os EUA fizeram ataques aéreos em agosto e contribuíram para
quebrar o avanço do EI, o que ajudou a conter o fluxo de recrutas
estrangeiros. Advertiu, porém, que a mudança de humor “não afetou os
radicais”.
O analista Torbjorn Soltvedt,
da consultoria Verisk Maplecroft, no Reino Unido, disse que a
transformação dos próprios combatentes, de exército móvel a força de
governo, abala o moral. ”Antes eles agregavam território, forçavam
exércitos no Iraque e na Síria a se retirar”, disse. “Agora, eles são
basicamente uma força de ocupação tentando governar.”
Depois de dias de vitórias
rápidas do EI, alguns estrangeiros podem questionar a longa e cansativa
luta adiante. Segundo Soltvedt, sua organização recebe relatos de
combatentes estrangeiros em contato com familiares e autoridades para
voltar ao lar.
Membros do EI em Raqqa dizem
que o grupo criou um policiamento militar para reprimir combatentes que
faltam ao serviço. Segundo ativistas, dezenas de casas foram invadidas e
muitos membros foram presos. Militantes disseram ser obrigados a
carregar um documento que os identifica e diz se foram incumbidos de uma
missão.
Um documento apresentado ao
“Financial Times” lista novas regras para os membros do EI. O papel, que
não pôde ser checado, diz que quem não se apresentasse aos escritórios
48 horas após o recebimento seria punido. ”Em Raqqa, prenderam 400
membros até agora e fizeram documentos para os outros”, diz um
militante.
A identificação de combatente é
um formulário impresso com nome, local, seção e missão preenchidos à
mão. ”A situação não é boa”, resmungou o militante, dizendo que
combatentes estão descontentes com seus líderes. “Nós não podemos falar a
verdade e somos forçados a fazer coisas inúteis”, afirmou.

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