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Mundo
Palestina ocupada: opressão e morte são estratégias do regime sionista
Após
uma sequência vertiginosa em que a violência da ocupação israelense e
do sistema que a sustenta foi acompanhada por uma turbulência doméstica,
causada pela medida que busca caracterizar legalmente Israel como
“Estado para o povo judeu” (num anacronismo racista e extremista), no
Dia internacional dos Direitos Humanos, a mais recente vítima da
opressão sionista foi o ministro palestino Ziad Abu Ein, que morreu
nesta quarta-feira (10).
Por Moara Crivelente*, para o Vermelho

Abu Ein, que tem um longo histórico na resistência palestina, foi nomeado ainda neste ano para a Comissão contra o muro e as Colônias ilegais israelenses na Cisjordânia. Antes disso, foi subsecretário do Ministério dos Prisioneiros, dedicado à luta contra as detenções arbitrárias e massivas por parte do regime israelense. Atualmente, há cerca de sete mil prisioneiros palestinos em cárceres israelenses, inclusive quase 200 crianças e mais de 15 parlamentares, de acordo com a Associação palestina de Apoio aos Prisioneiros e aos Direitos Humanos, Addameer.
O ministro foi morto por soldados israelenses que o agrediram e que mais uma vez reprimiram uma manifestação com bombas de gás lacrimogênio, balas de metal revestidas de borracha e outros métodos brutais frequentemente empregados pelos soldados, durante um protesto contra o muro (que corta e se expande pela Cisjordânia desde 2002), no Dia dos Direitos Humanos. As autoridades palestinas condenaram o episódio e alertaram: elaboram respostas às crescentes violações perpetradas pelo regime israelense.

O muro israelense já tem mais de 700 quilômetros e oito metros de altura em grande parte da sua extensão.
O projeto foi lançado por Ariel Sharon em 2002, com a tomada de mais terras palestinas e a consolidação
de um sistema de segregação e ocupação que contribui para a limitação da mobilidade dos palestinos.
Ofensiva e ocupação em ascensão
Em agosto o presidente palestino Mahmoud Abbas havia apontado para o cinismo do regime israelense liderado pelo premiê Benjamin Netanyahu na escolha do Ano Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino para impor aos palestinos da Faixa de Gaza e da Cisjordânia novas “operações militares”. No primeiro território, completamente sitiado há oito anos, mais de 50 dias de bombardeios mataram cerca de 2.200 palestinos e deixaram Gaza outra vez devastada, na terceira ofensiva brutal em cinco anos. Na Cisjordânia, vários episódios de violência e repressão fatal já tinham antecedido a chamada “operação Guardião Fraterno”, lançada em junho. Quase dois mil palestinos foram presos e cerca de 100 foram mortos em protestos, em ataques dos colonos israelenses ou em outras ações em que a resistência é punida com a morte.
A solidariedade mundial aos palestinos, ainda que crescente, continua tendo de enfrentar a aliança inabalável do imperialismo estadunidense, que impede qualquer medida de responsabilização do regime israelense pelos flagrantes crimes de guerra cometidos pela “Potência Ocupante”, como é denominado Israel pelo Direito Internacional. A classificação, rechaçada pelos sucessivos governos israelenses de forma deliberada, pressupõe obrigações e garantias que Israel viola diariamente nos territórios palestinos que ocupa (Faixa de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental), estabelecidas pela Quarta Convenção de Genebra (1949) sobre a proteção de civis em tempos de guerra.

Ainda assim, o primeiro-ministro israelense e seu ministro da Economia, de Assuntos Religiosos e de Jerusalém, o extremista e racista Naftali Bennett, foram mais uma vez convidados, como se fossem personalidades políticas dotadas de moralidade para a avaliação do chamado “conflito Israel-Palestina”, a darem suas opiniões no Fórum Saban, organizado pelo Instituto Brookings, nos EUA. Netanyahu voltou a culpar os palestinos e a dizer que a “paz” só seria possível se o Exército israelense continuasse presente na Cisjordânia palestina. Este foi um dos principais pontos, tacitamente respaldados pelos EUA, trajados de “mediadores”, que levaram mais um período de negociações entre a Autoridade Palestina e Israel ao fracasso. O Fórum Saban deste ano, que ocorreu na semana passada, foi intitulado "Mares revoltos: Os Estados Unidos e Israel em um Oriente Médio tumultuado", mas não contou com análises sobre o papel direto e primordial dos dois aliados na instabilidade regional, certamente.
Racismo institucionalizado
No final de novembro, um projeto de lei aprovado e enviado ao Parlamento para votação definia Israel como o “Estado nacional do povo judeu”, cujo reconhecimento passou para a lista de exigências inaceitáveis feita pelo regime sionista aos palestinos (junto com a abdicação ao direito dos refugiados ao retorno, de Jerusalém Oriental como capital, de um Estado viável e livre da ocupação militar israelense, entre tantas outras, como o fim da resistência).

A oposição de ambos à medida (devido à terminologia e ao momento, certamente não devido ao propósito) causou a ruptura interna e a convocação de eleições antecipadas em Israel, previstas para março de 2015, a mesma época em que deve sair o relatório da missão de inquérito enviada pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU à Faixa de Gaza para averiguar as denúncias de crimes de guerra perpetrados pelas forças israelenses durante a “operação Margem Protetora”, entre 8 de julho e 26 de agosto.
Para os que enxergam na turbulência uma boa oportunidade, infelizmente, não é o caso. A ascensão da extrema-direita em Israel é preocupante, o apoio civil à própria ofensiva contra Gaza foi massivo (embora haja vários casos de oposição manifesta e também reprimida nas ruas israelenses) e o forjar constante de uma narrativa religiosa para justificar a violência contra os palestinos e a ocupação dos seus territórios volta a atingir picos. A era dos extremismos acha solo fértil em Israel, ainda que seus governantes vistam a fantasia de atores políticos racionais para participar de fóruns acadêmicos nos Estados Unidos.
*Moara Crivelente é cientista política e jornalista, membro do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) assessorando a presidência do Conselho Mundial da Paz.
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