domingo, 11 de janeiro de 2015

"Não cairemos na armadilha da unidade contra o inimigo comum", dizem anarquistas


Enviado por Alex Sotto
Comunicados da Federação Anarquista sobre o atentado contra a redacção do Charlie Hebdo
Não uivaremos com os lobos!

O atentado cometido esta quarta-feira 7 de Janeiro pela manhã contra o Charlie Hebdo por alguns indivíduos, reclamando-se do Islão, não nos deve fazer perder a capacidade de raciocínio, apesar da emoção, bem compreensível, que nós partilhamos, de muitos camaradas nossos. Se num determinado período o meio libertário, muito em particular a nossa organização, esteve próximo destes herdeiros do Hara Kiri, a sua emanação contemporânea já nos deixou de fazer rir há muito tempo.
Não escolhemos nem vamos escolher entre integristas e desinibidores dum racismo “de esquerda”. Nós não escolheremos entre reaccionários religiosos de que conhecemos bem as práticas qualquer que seja a sua seita e um jornal veiculando a islamofobia debaixo da cobertura da laicidade e da liberdade de expressão. Desde a sua origem a nossa organização combate todas as religiões e as suas emanações integristas venham de onde vierem. Não cairemos na armadilha grosseira da unidade nacional contra “o inimigo comum”.
A nossa solidariedade vai para aqueles que vão sentir o ricochete deste assassinato imbecil e criminoso a mais do que um título. Já se ouviu o tiro de partida para a caçada e o que retém o poder “socialista” de se lhe entregar totalmente é o medo de não serem eles a recolherem os frutos nas próximas eleições. Vemos já florirem os discursos sobre a guerra civil, apenas algumas horas depois deste atentado.
Nós não escolheremos também o terreno duma extrema-esquerda que confunde, na sua estupidez essencialista e politiqueira, realidades tão diversas como o proletariado, o Islão, o racismo, os sem-papéis ou os “jovens da periferia”, fantasiando sobre um alegado potencial revolucionário dos muçulmanos.
Este atentado dá-se num período de estigmatização dos muçulmanos ou assimilados enquanto tal. É preciso relembrar que a islamofobia é um instrumento do poder visando dividir a nossa classe e as suas lutas. Ela não se desenvolve como reacção a um alegado “problema muçulmano”. O movimento anti-Islão alemão “Pegida”, que ganha dimensão, é caracterizado por esta psicose, mas a população “muçulmana” deste país representa menos de cinco por cento da população.
No entanto, é principalmente sobre este sentimento de invasão, “de islamização”, que a extrema direita se estrutura nestes últimos anos. Não temos nenhuma dúvida de que o massacre reaccionário de Charlie Hebdo vai reforçar este fenómeno e dará à FN (Frente Nacional, fascista) e aos seus satélites uma maior legitimidade para defenderem a existência de um conflito étnico como problema de fundo e a escolha nacional como solução.
Neste período conturbado, os anarquistas devemos guardar a cabeça fria e manter uma linha de demarcação clara entre nós e os nossos inimigos: integristas de todas as capelas, xenófobos de esquerda como de direita, sexistas de todos os horizontes e pretensos comunistas virados para a reconciliação nacional e para o inter-classismo.
Grupo Regard noir – Federação Anarquista

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