quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Quando os palestinos aprenderão que o direito internacional não é para eles?


Quando os palestinos aprenderão que o direito internacional não é para eles?

Os palestinos persistem, depois do mais humilhante dos insultos, em recorrer ao direito internacional para resolver seu conflito com Israel.


Robert Fisk Zoriah / Flickr
Jogue um osso para um velho cachorro e ele irá persegui-lo. O mesmo ocorre com o pedido da Palestina de fazer parte da Corte Penal Internacional. E é claro que Mahmoud Abbas quer acusar Israel por crimes de guerra em Gaza cometidos neste ano.

Ou talvez se trate de uma “faca de dois gumes” – bocejos estão permitidos diante desse tipo de clichê – que também poderia fazer o Hamas a “se sentar no banco dos réus”. Israel está indignado. Os Estados Unidos se “opõem com todas as suas forças” diante do pedido covarde do idoso soberano que acredita governar um estado que nem sequer existe.

Mas espere um momento. A história não é esta, certo? Sem dúvida, a narrativa autêntica é totalmente diferente. A BBC não acertou esta. Tampouco a CNN. Nem sequer a Al Jazeera. Mas não há dúvida de que o aspecto mais importante dessa história é que os descendentes da OLP – que há apenas um quarto de século eram temidos como a organização “terorrista” mais perigosa do mundo, e seu mentiroso líder Yasser Arafat qualificado como “nosso Bin Laden” por parte do mentiroso dirigente de Israel Ariel Sharon – querem, com todas as suas consequências, respeitar e se reger pelo direito internacional!

Que os céus nos livrem desse pensamento, mas esses caras – depois de todos os seus antigos pedidos para acabar com o estado de Israel, depois de todos os atentados suicidas e intifadas – estão pedindo para fazer parte de um dos órgãos judiciais de maior prestígio na terra. Durante anos, os palestinos exigiram justiça. Recorreram à Corte Internacional de Haia para desmantelar o muro do apartheid israelense: eles ainda ganharam, e Israel não deu um pio. Qualquer palestino em sã consciência, você poderia pensar, já virou as costas para esse tipo de iniciativa pacífica há muito tempo.

No entanto, esses desgraçados palestinos persistem, depois do mais humilhante dos insultos, em recorrer ao direito internacional para resolver seu conflito com Israel. E aqui vêm eles de novo, solicitando respeitosamente que sejam admitidos como membro da Corte Penal Internacional. Esses árabes nunca vão aprender?

E, é claro, os norte-americanos ameaçaram puni-los por esse desaforo. Eles têm que congelar esses milhões de dólares em ajudas para os palestinos. Têm que apoiar a negativa de Israel a qualquer pedido de “Palestina” na Corte Penal Internacional. A União Europeia – especialmente a Inglaterra e a França – aceitou essa linha argumentativa. Israel já decidiu por sua conta reter mais de 80 milhões de shekels (1,4 bilhão de dólares) em impostos devidos à Autoridade Palestina.

O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA nos informa que seu governo está “profundamente preocupado” com o pedido palestino. É “totalmente contraproducente”, declarou ao mundo. Não ajuda “em nada promover as aspirações do povo palestino a um estado soberano” – ainda que se poderia pensar que o pertencimento a tão augusto órgão judicial ajudaria enormemente a convencer o resto do mundo de que os palestinos estejam dispostos a assumir toda a responsabilidade e os deveres que implica ser um estado.

Depois de tudo, os palestinos de fato têm que respeitar o direito internacional e (se a lei se aplicar retroativamente) teriam que aceitar a desonra pelos crimes do Hamas e os assassinatos da OLP no passado. Os Estados Unidos, é claro – e esse fato estranhamente não é mencionado na enxurrada de notícias sobre o pedido da “Palestina – se negou a fazer parte da Corte Penal Internacional. E com razão porque, assim como os israelenses (ainda que não seja assim que todo este fangando que nos foi explicado), Washington também está preocupado com o fato de seus soldados e oficiais poderem ser processados por crimes de guerra. Basta pensar nas torturas da CIA, Abu Ghraib, Guantánamo etc...

Não é de se estranhar que Jeffrey Rathke, o falastrão porta-voz do Departamento de Estado, afirme que o pedido “prejudica consideravelmente o ambiente” com Israel, “solapa a confiança” e “cria dúvidas sobre seu compromisso (o da Palestina) com uma paz negociada”. E além disso, é preciso recordar, Abbas apresentou sua solicitação depois de os EUA terem vetado – e utilizaram previamente seu veto mais de 40 vezes desde 1975 em apoio a Israel para impedir a autodeterminação da Palestina – uma revolução do Conselho de Segurança da ONU para por fim à ocupação israelense nos territórios palestinos em 2017.

Mas, é claro, é fácil saber realmente o que esse tumulto todo significa. O mundo está cansado de ser testemunha do sofrimento dos palestinos. Quem ainda tem em si uma réstia de humanidade está farto de que eles sejam caluniados como antissemitas ou antissionistas (ou o que quer que seja) a cada vez que expressam sua indignação pela crueldade de Israel quanto aos palestinos.

A matança de mais de 2 mil palestinos no verão passados, centenas deles crianças, foi um massacre autêntico. Temos sido testemunhas de semelhante espetáculo grotesco tantas vezes – em sua maioria, em Gaza – que inclusive nossas estatísticas estão manchadas de sangue.

Quem se lembra das vítimas mortais da guerra de Gaza de 2008-9? Mil quatrocentos e dezessete palestinos mortos, 313 dos quais crianças, e mais de 5.500 feridos. Foi um conflito que não mereceu qualquer comentário do presidente Obama.

E quem sabe o que sairá da sangrenta caixa de Pandora da Corte se a Palestina for admitida? Aquele piloto do bombardeio que, em 2002, matou 15 civis, sendo 11 crianças, em um bloco de moradias de Gaza para assassinar um funcionário do Hamas, por exemplo? Foi um crime de guerra? Essas atrocidades não “prejudicam o ambiente” e “minam a confiança”? Esses banhos de sangue não foram “totalmente contraproducentes?” E a colonização judia dos territórios ocupados da Cisjordânia?

Não restam dúvidas, é preciso deter e julgar quem está por trás dos ataques suicidas do Hamas e da jihad islâmica por crimes de guerra. Deter os assassinos da Autoridade Palestina que torturam e assassinam seus próprios prisioneiros. Mas isso não é o que preocupa Israel e EUA. O que os preocupa é que, após meses de discussões e análises de milhares de documentos, os juristas possam decidir que Israel – horror dos horrores – deva responder perante a justiça internacional, algo que nenhum veto rotineiro dos EUA poderia evitar.

Agora imagine que Israel e Estados Unidos quisessem que os palestinos assinassem o Tratado de Roma da Corte. Pense – só por uma fração de segundo – que Israel e Estados Unidos insistam para que os Palestinos se submetam ao tratado internacional e se transformem em membros da Corte Penal Internacional como condição sine qua non para ser um Estado. A negativa de Abbas seria uma prova a mais de suas intenções “terroristas”. No entanto, quando Abbas quer assinar o Tratado de Roma, quando os palestinos querem acatar um tratado internacional, devem ser castigados: isso nunca foi visto na história moderna.

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